E olha só, falando na cor que “tentei passar” no último réveillon, me lembrei do mês e ano que comecei a gostar de vermelho: julho de 2016.

Pois é, vermelho é uma cor que eu não gostava muito, não me identificava para usar ou ter objetos. Mas estranhamente na viagem que fiz para Inhotim, algo mudou.

Já no ônibus da excursão, eu precisei de um fone de ouvido – porque programei para ir editando um vídeo que iria apresentar no congresso e não lembrei de levar fone. Imediatamente me veio a vontade de que o fone fosse vermelho (dos desejos mais mundanos e inexplicáveis). Então na primeira parada em um Graal, desci com o objetivo claro de comprar um fone-de-ouvido-vermelho. Deu certo, encontrei-o e já pude seguir a viagem editando.

Chegando em Minas, mais especificamente em Brumadinho, comecei a verdadeira “viagem” por dentro de Inhotim. Aquela mistura, de obras de arte de Deus e de Humanos juntas, é realmente uma Experiência.

Mas a magia começou a acontecer depois que saí de uma exposição específica ali de dentro: Desvio para o Vermelho, do Cildo Meirelles.   

Todos os objetos dos cômodos ali decorados eram vermelhos. A mesa, cadeira, máquina de escrever, caneta, maçã, estante, objetos na estante, etc… Paredes, lustres, chão. O mesmo tom de vermelho. E neste ambiente monocromático, tudo que vemos são as formas. Pois as coisas não se distinguem mais pelas variações de cores.

Essa overdose de vermelho deve ter pirado os meus *cones e quando saí daquele ambiente, de volta para o ar livre, comecei a ver em destaque todas as flores vermelhas. E como tinha flores vermelhas!

É como se o vermelho tivesse ficado em neon para mim.

Me pus a fotografar toda a gama de florescências vermelhas que havia por ali, e também no dia seguinte, em BH. (Eu fiquei imaginando se algumas cores-de-flor têm mesmo um “coincidir” de aflorarem na mesma época do ano, pois eram de diversas espécies, em lugares já aleatórios da cidade – algo para algum botânico tentar nos explicar).

Mas voltando ao meu “despertar para o vermelho”.

Depois dessa experiência toda eu já estava adorando o vermelho e na hora de me arrumar no fim do dia para o jantar, queria muito colocar alguma peça com vermelho. Revirei a minha mala e é claro que não tinha NADA. Nem um acessório sequer. Como pode? Não entendi como pude ficar tanto tempo adormecida para essa cor. Senti um certo desgosto em precisar colocar uma calça azul e prometi para mim mesma que no dia seguinte iria tomar providências.

O que consegui foi encontrar um brinco com tons de vermelho em uma loja indiana dentro do mercadão de Belo Horizonte. Era um começo.

Sei que fui compartilhando esse sentimento de “abrir os sentidos” para uma cor – comparável ao sentimento de quem volta de uma viagem pela serra e vai sentindo o ouvido “desentupir” gradualmente, até que volta a ouvir – e a guia que nos acompanhou fez um gesto que selou de um jeito muito simbólico o final desta viagem:

Ela, ao se despedir, já com o ônibus parado aqui em Sorocaba, tirou o lenço de seu pescoço que usou durante os passeios, e enrolou no meu. Me deu um abraço e pediu para eu guardar de lembrança.

Senti como se o abraço dela fosse embora junto comigo pra casa, junto com aquele lenço. Me senti envolta pelo degradê de vermelho que ele continha e me lembrei da história que ela contou- que o trouxe da Champs Élysées, em uma das vezes que guiou na França.

Eu não entendi nada sobre tudo isso, comecei a viagem buscando por um fone vermelho, tive uma explosão de experiências com essa cor na exposição humana e da natureza e voltei pra casa com a materialização deste processo em torno de mim.

Percebi que essa sequência teve todo um propósito de me entregar de presente um novo sentimento, **“Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, Vermelhante, vermelhão…”

Recebido. Corei.

*aah filosofada de médica, são só as células da nossa retina que captam as cores

** caso o leitor seja de uma geração muito mais nova e não conheça, explico: é uma música do cantor e compositor amazonense Chico da Silva – feita originalmente para o Boi Bumbá “Garantido”. Vale a pena ouvir também na versão da Daniela Mercury ou Fafá de Belém.


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *